REVISTA “BARBOT” ENTREVISTA MIGUEL MELO
Quando prescreve os materiais de construção, que características tem em consideração?
As variantes são muitas, contudo, destaco a forma, que no auxilia desde logo a atingir a imagem pretendida, podendo ir desde a sofisticação à sobriedade máxima; à função, uma vez que o material tem de cumprir com aquilo que se pretende; e, finalmente, o custo, adaptado a cada cliente.
Dos concursos em que participou qual e que considerou mais entusiasmante?
É sempre o último. Avançamos para todos os concursos com a ilusão de vencer e, consequentemente, com a dedicação máxima. Actualmente, estou a trabalhar no concurso de ideias para a reabilitação da famosa Praça Tiananmen em Pequim. É um projecto interessantíssimo, pois “foge” a tudo o que é comum, desde a escala da praça, que tem aproximadamente 200.000 m2, ao objectivo da proposta de concurso, que não minimamente clara. Tem havido debates no escritório sobre diversas possibilidades de intervenção, o que é muito motivante.
Das obras que projectou, com qual e que se identifica mais? Recorda-se de como surgiu o seu primeiro interesse pela arquitectura?
Desde a infância que dizia a todos que seria arquitecto. Os meus pais davam-me cadernos de folhas lisas A3 – ainda os têm – onde desenhava de tudo, dizendo sempre que, quando crescesse, iria desenhar casas e pontes. Até agora só as casas de cumpriram, talvez uma dia uma ponte…
Qual foi o seu percurso profissional?
Depois de terminar a licenciatura em Arquitectura, em 1995, na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, fiz estágio no escritório de arquitectura Cruz & Alarcão Lda., onde permaneci por mais 4 anos. Desde 1999, trabalho no G.T.L da C.M. de Guimarães, na reabilitação do seu Centro Histórico. Em 2003, criei a MIGUEL MELO ARQUITECTURA, um escritório onde tenho vindo a desenvolver o meu trabalho a vários níveis, desde o urbanismo a arquitectura de interiores.
Como define o seu estilo? O que caracteriza as suas obras?
Acho muito redutor definir arquitectura num estilo. Em cada projecto existem vários elementos que é importante assinalar, como o espaço, o cliente, a forma e a função. São estes 4 “factores” que aliados e conjugados, nos dão o resultado final. Procuro sempre fazer um raciocínio que leve a simplificação final, através da procura pelo detalhe máximo, sendo certo que, por vezes, por detrás dessa simplicidade está todo um processo de grande complexidade. Os últimos projectos são sempre aqueles com que me identifico mais. No entanto, posso mencionar a Habitação das Antas, no Porto, que recebeu uma Menção Honrosa do Prémio João de Almada 2008, onde se conseguiu conjugar um edifício dos anos 50 com uma imagem que se pretendia contemporânea; o espaço comercial Saídos da Casca, em Matosinhos – que consistia numa loja de vestuário infantil em que tudo saía de um ovo; e o terceiro, um restaurante em Xangai, que ainda não está construído mas que, por ser um restaurante de portugueses na China, tem de conjugar duas formas de comunicar completamente distintas.
Qual é a obra de arquitectura que mais admira e considera uma referência no panorama mundial?
Posso dar quatros obras que me marcaram, como o PAVILHÃO DA ALEMANHA na Feira Internacional de Barcelona 1929, do Arq.º Mies Van Der Rohe, actualmente reconstruído; o MUSEU GUGGENHEIM de Nova Iorque, do Arq.º Frank Lloyd Right; o BANCO BORGES&IRMÃO em Vila do Conde, actualmente BANCO BPI, do Arq.º Álvaro Siza Vieira; o LLOYD’S BANK OF LONDON, do Arq.º Richard Rogers. Muitas gerações de arquitectos mas sempre o mesmo denominador, uma vez que todos surpreendem pela intemporalidade e genialidade.
Numa fase em que o mercado se volta para a recuperação e reabilitação do património edificado, qual é o papel do arquitecto nesse processo?
O arquitecto tem um papel cada vez mais preponderante nesse processo, lamentavelmente, só recentemente a reabilitação do património edificado passou a ser uma prioridade da nossa sociedade.
Não faz sentido construir nas periferias quando as cidades, que têm tanto para nos oferecer, estão a sofrer um processo quase irreversível de degradação e abandono. Temos de reconquistar as cidades, vilas e aldeias, preservando o património já edificado.
O arquitecto tem cada vez mais a possibilidade de sobrepor as palavras “recupera/transformar/adaptar” ao “facilitismo” do edificar no “vazio”.